Fala galera, tudo tranquilo?
Hoje voltamos com a nossa postagem de entrevistas e entrevistamos o pessoal do blog Interpretar e Aprender. Você não conhece??? Meu amigo, corre e dê uma olhada lá.
http://grupointerpretareaprender.blogspot.com.br/
http://grupointerpretareaprender.blogspot.com.br/
Um grupo que surgiu na Universidade de São Paulo formado por três estudantes do curso de História que tiveram o desejo de unir RPG e Educação. Além de poder se divertir jogando, se pode também educar crianças , jovens e adultos.
Vamos então a entrevista !
1° - Como surgiu o projeto
de vocês?
Daniel: À época, nós três trabalhávamos ou já tínhamos trabalhado com
educação de alguma forma. Tínhamos acabado de concluir nossas
licenciaturas e já havíamos jogado RPG juntos, mas não éramos, à época,
um grupo de fato. Foi quando o Thiago lançou a ideia para uma amiga dele
que era educadora e ela bancou a aposta de que poderíamos apresentar o
RPG como instrumento educativo na bienal da escola em que ela
trabalhava. Nós adoramos a experiência e decidimos nos tornar, de fato,
um grupo, produzindo conteúdo em nosso blog e aventuras para escolas
interessadas.
Thiago: Quando minha amiga propôs uma aventura para 80 crianças já vi
que não conseguiria sozinho. Logo pensei no Daniel e no Paulo pois
joguei aventuras divertidíssimas com ambos e sabia que levavam jeito pra
coisa. Não deu outra, dez estafantes horas depois de começarmos
sabíamos que não poderíamos mais parar por ali.
2° - Muito bom, e como vocês vêm a interação entre o RPG e a educação?
Thiago: O RPG apresenta soluções para vários problemas da educação
atual: a autoridade falha de professores desmotivados, a falta de
interesse de alunos desmotivados, a falta de escrita e leitura, a
sistematização extrema e a desvinculação do conteúdo trabalhado com a
vida em sociedade, e trabalho cooperativo, etc. Em si só ele traz,
quando bem utilizado, benefícios que poucas ferramentas ou métodos
conseguem suprir. Ainda assim, não pode ser tratado como uma solução
única e definitiva.
Daniel: Depois de nossas experiências em grupo e de algumas outras
experiências particulares, bem como de algumas leituras, penso que o RPG
é uma ferramenta extremamente poderosa, mas que não faz milagres e que
ele pode atuar como complemento, mas não como um substituto às formas
tradicionais de ensino de conteúdo. O RPG pode incentivar o aluno a
querer aprender mais, a querer saber, mas é perigoso pensar nele como
uma panaceia para os problemas educacionais. Dito isso, contudo, não se
pode subestimar a ajuda que ele é capaz de empreender. Ele oferece uma
plataforma interativa fantástica para a fixação de conteúdos e,
sobretudo, oferece aos alunos a possibilidade de 'saírem de si', de
considerarem outras perspectivas. Neste sentido, o RPG pode auxiliar a
fomentar habilidades cognitivas difíceis de se trabalhar dentro dos
limites da educação tradicional, como a empatia e a sensibilidade, ao
mesmo tempo em que estimula a criatividade e a espontaneidade.
3° - Vocês acham que ainda existe um certo tipo de preconceito na nossa
sociedade acerca do RPG?
Daniel: Com certeza, existe. Já foi muito pior, contudo. Hoje, ele sofre
algum desprezo por ser uma forma de entretenimento que está um pouco
fora de moda, por não ser virtual e nem envolver atividade física. É uma
brincadeira que envolve um esforço mental que lida com habilidades
importantes, mas que têm sido pouco estimuladas hoje em dia. É muito
estranho pensar que, por exemplo, o League of Legends e o World of
Warcraft, jogos conhecidos no mundo inteiro, extremamente populares
entre jovens (e entre alguns dos alunos que tive), só são o que são
porque foram construídos sob preceitos cunhados pelos jogos de RPG
tradicionais, não-virtuais, tabletop, como dizem os anglófonos, mas que
muitos de seus jogadores não tenham qualquer interesse nestes RPGs
tradicionais por não quererem trabalhar aquelas habilidades cognitivas
de que falei na última resposta. Por outro lado, creio que setores mais
tradicionais veem o RPG com ressalvas pelo mesmo motivo que enxergam
problemas em jogos de videogame, por exemplo, por associarem tais
atividades a um passatempo de crianças e não terem interesse em aprender
sobre ela. A questão do RPG como 'coisa do demônio' ainda deve existir,
mas não creio que ela paute a opinião da sociedade como à época da
tragédia de Ouro Preto.
Thiago: Eu vejo o preconceito acerca do RPG apenas no âmbito
educacional. A geração que está formando os jovens adultos de nossa
sociedade teve um contato muito grande com RPG´s ao longo da vida,
principalmente com os vídeo-games. A escola, entretanto, ainda vê o RPG
como uma ferramenta de entretenimento, como disse o Daniel, e não
acredita na potencialidade do novo. É inegável que as novas tecnologias
revolucionarão o ensino nas próximas décadas e a escola deve abrir-se
para o novo.
4° - O RPG deveria ser uma matéria escolar, ou mesmo um momento dentro
das escolas de ensino fundamental visando estimular o aprendizado e
leitura e a interação social?
Daniel: Tenho algumas ressalvas quanto a torná-lo uma matéria ou algo
assim. Acho que ele poderia ser uma oficina alternativa, um curso
extracurricular, similar a um curso de teatro dentro de uma escola. Não
questiono que ele possa estimular o aprendizado, a leitura e a interação
social - ele pode e é eficaz neste sentido. Tenho dúvidas quanto a
torná-lo algo obrigatório, sabe? Mas as experiências que tive foram
quase todas positivas... Só que, ainda que seja uma forma muito mais
estimulante de se passar conteúdo, não vejo como ela seria capaz de
substituir totalmente uma aula expositiva, um trabalho, um exercício. Em
uma escola adequada, com um número de alunos baixo e professores tanto
bem motivados quanto bem assessorados pela direção escolar, estes
métodos tradicionais ainda são mais eficientes. Por isso, tenho fé no
RPG como um excelente acessório, mas não como "solução" para os
problemas da educação. Estes, creio, passam antes pela valorização do
docente, tanto financeiramente quanto funcionalmente.
Thiago: Também tenho minhas dúvidas quanto à obrigatoriedade do RPG em
sala de aula. Em nossas experiências, nunca houve um caso de recusa de
participação. Claro que um aluno empolga-se mais que outro, mas todos
sempre receberam bem a atividade. Não é difícil encontrar casos de
sucesso quando o RPG é jogado no contra-turno como um curso
extra-curricular. Mesmo sem inserir conteúdos escolares, há benefícios
socio-cognitivos riquíssimos na prática do jogo de interpretação. Não
acredito, entretanto, que deva tornar-se uma matéria. Há, cada vez mais,
escolas democráticas extinguindo matérias. Acredito que o conhecimento
se dá de forma transdisciplinar, e o RPG pode ser uma poderosa
ferramenta nessa direção. É bastante claro, nas aventuras que criamos, a
potencialidade de trabalhar-se conteúdos de várias áreas do
conhecimento.
5° - Qual é o maior objetivo do trabalho de vocês hoje ?
Daniel: Em minha opinião, difundirmos o RPG como ferramenta educacional,
explicarmos suas possibilidades e oferecermos nossos serviços às
escolas interessadas.
Thiago: E me divertir enquanto faço tudo isso
6º - Qual é o RPG preferido de vocês e por que?
Daniel: Entre os sistemas que joguei, meus favoritos são o Sistema
Daemon e o Unisystem, que são mecanicamente simples e eficientes, mas
que também incentivam a interpretação por parte dos jogadores, mas tenho
lido sobre outros sistemas e estou muito curioso para experimentar um
chamado Burning Wheels - vou me presentear ano que vem com ele, creio.
Já quanto a ambientação, gosto muito de criar as minhas próprias, mas,
dentre as 'estabelecidas' a do oWoD é a minha favorita, de longe. Eu
sempre volto para ela, em algum momento. O nWoD parece muito legal, mas
me é difícil abandonar os Tremere, os Presas de Prata, a Ordem de
Hermes...
Thiago: Meu preferido, sem dúvidas é o mundo das trevas. Foram as
aventuras nas quais mais me diverti. O D&D também conseguiu me
conquistar de alguma maneira. Mas o sistema ou o cenário de nada
importam quando se está em um ambiente confortável e divertido. Comecei a
jogar (e nem sabia que estava jogando) quando fizemos um simulador de
Dungeon Keeper (aquele antigo mesmo) no papel no ensino fundamental II.
Galera foi muito bom poder fazer essa entrevista com o pessoal do Interpretar e Aprender. Espero que você também tenha gostado e lembrando como é bom vermos que além de ser extremamente divertido jogar RPG, ele pode ser uma ferramenta na área da educação, desenvolvendo no indivíduo a criatividade e estimulando a interação social. Parabéns ao pessoal do Interpretar e Aprender, muito sucesso com a iniciativa de vocês, e mais uma vez aqui vai o blog do grupo e a página no facebook. Visita lá e dê aquela curtida!
http://grupointerpretareaprender.blogspot.com.br/
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